Moto-Sim-cleta
Motos são freqüentemente associadas a problemas. O que mais chama a atenção de todos é seu envolvimento em acidentes de trânsito. Já é quase um mantra repetirmos que “em São Paulo, morre um motoqueiro por dia”. Mesmo os que nunca leram uma estatística – ou andaram de moto – repetem esse mantra. Aqui em Patrocínio, com uma população de 0,75% a de São Paulo, sempre nos deparamos com o argumento de que motos são um problema. Além dos acidentes, é comum alguém defender idéias de que as motos atrapalham o trânsito, provocam acidentes, desrespeitam motoristas e pedestres, estão ligadas a assaltos e violência em geral são os verdadeiros arautos do caos.
Do outro lado, dos que gostam, usam, precisam, ganham e curtem a vida com a motocicleta, o que é que se diz? A informação fica restrita à mídia especializada e os debates, aos interessados ou aos “entendidos”. Isso seria razoável se pensarmos que quem é marginalizado se protege por meio da identificação em grupos e formação de guetos. A questão é que motos e motociclistas, apesar de marginalizados, são uma parte ativa e importante da economia e da sociedade em geral. São um grupo grande – somam 9 milhões no Brasil – e em franco crescimento – cerca de 27% representados por mais de 1 milhão de unidades produzidas apenas no 1º semestre de 2008.
Motocicletas são mais baratas, consomem menos combustível, poluem menos, ocupam menos espaço nas vias, precisam de menos lugar para estacionar. Entregam remédios, pizzas, jornais, autopeças, documentos. Levam técnicos de informática, mecânicos, paramédicos, enfermeiros, bombeiros e policiais. Chegam mais fácil, mais rápido, mais barato. Tudo isso, sem falar no seu uso recreativo. Vistas assim, fica difícil tratar as motocicletas como problema. E fica óbvio que respeito a leis de trânsito, a motoristas e pedestres, os acidentes e a violência não são vinculados ao veículo mas às pessoas que os conduzem.
Exatamente da mesma maneira que acontece com bicicletas, carros, ônibus, caminhões – os veículos não vão sozinhos. Dependem de seu condutor. Quem nunca encontrou um caminhão transitando na estrada à noite com as luzes completamente apagadas? Quem nunca chegou a um cruzamento, aqui mesmo em Patrocínio, e encontrou um carro furando o sinal? Ou em excesso de velocidade? Quem nunca pensou que caminhonetes, ônibus e caminhões se aproveitam de seu tamanho para forçar a passagem? Ou que pedestres e ciclistas abusam da sorte atravessando a rua sem olhar? Apontar para os outros não resolve nada, mas mostrar a trave no olho do outro pode ajudar a tirar o cisco do próprio olho...
Precisamos dar a medida certa de responsabilidade a cada um e, para isso, precisamos entender melhor o problema. O primeiro passo é separar o veículo dos condutores. São os maus condutores que denigrem a imagem de todos. Todos os condutores e todos os veículos. O segundo é entender que o cumprimento das leis de trânsito depende de cidadania, de educação para o trânsito, de fiscalização, punição. Trânsito bom, seguro, civilizado depende também (pasmem!) de pavimentação, sinalização, fluidez. Só depois de separarmos os veículos dos condutores, prepararmos as pessoas e a estrutura para o trânsito é que teríamos condições reais de avaliarmos quanto do problema é causado pelas “motocicletas”. Qualquer análise que não considere esses aspectos é pura caça às bruxas.
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