terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O Motociclista Mais Importante do Meu Mundo

Caros,

grande parte do amparo e conforto que recebemos agora, com certeza, vem dos amigos. Os motociclistas são verdadeiros irmãos sempre e agora dão mais força ainda.

Mas quero aproveitar para contar um parte da história do motociclista mais importante do meu mundo que acho que a maioria não sabe. Ele foi o primeiro motociclista que conheci. Na verdade, minha história começa com uma moto. Aliás, isso foi muito antes d'eu ter nascido. Lá pelos idos de 1970. Meu pai comprou uma moto. Uma CB50 - gloriosa "Cinqüentinha", assim mesmo com trema para reforçar a idade da moto... Que fique claro: a moto era vermelha (a vermelha corre mais!)

Ele tinha conhecido "uma certa" vizinha, de vista, na fila do ônibus e já estava interessado. Descobriu onde ela morava e fez a abordagem de moto. Ele estava treinando para tirar carteira e ficava passando na porta da casa dela, de moto, dando toques na buzina para não correr o risco de passar despercebido. Foram 23 dias seguidos, sem falhar nenhum. O "cara de moto" passava e buzinava e meu avó ficava de orelha em pé querendo descobrir o que estava acontecendo.

A partir daí, não deu outra. Levou uma irmã para passear, levou outra para dar uma volta e, no final das contas, como tinha de ser, namorou com a tal da vizinha. Namorou, casou escondido, fugiu da casa do sogro puxando a esposa pela mão antes que a polícia chegasse.

Ele andou de moto por pouco tempo depois disso. Além do casamento, ele sofreu um pequeno acidente - sem ferimentos ou gravidade - e achou melhor, mais ajuizado, ficar longe das duas rodas. Ele nunca mais montou em uma moto mas nunca deixou de reconhecer o prazer e a liberdade que elas proporcionam. Com a vizinha, ele namorou por 38 anos, teve 4 filhos, 5 netas que o chamavam de "Namo" (de namorado). Venceram juntos todas as batalhas que escolheram lutar. Ele foi de moto em 1970 encontrar a última pessoa que viu em 2009 e de quem ouviu as últimas palavras: "Fica tranquilo, eu estou do seu lado". Morreu como sempre viveu e como gostaria que ficássemos agora: em família e em paz.

Ele gostava de dizer que moto tinha que ser para curtição e me lembro bem de termos conversado sobre a importância daquela Cinquentinha na minha paixão por motos, na minha vida e na imagem que eu tenho dele. Quando voltei para Patrocínio, pude compartilhar com ele essa e outras histórias sobre motos, sobre nossas paixões e sobre a vida. Estivemos muito mais próximos nos últimos anos do que jamais estivemos. O período em que mais andei de moto até hoje foi o mesmo período em que mais estivemos próximos. A cada saída, nos despedíamos sabendo que poderia ser a última despedida. A cada retorno, agradecíamos a viagem em segurança. A cada chegada, nos reencontrávamos com uma cerveja gelada, um abraço de boas vindas e agradecíamos a oportunidade de nos falarmos de novo, de contarmos mais histórias, de fazermos novos planos.

Um dos pontos altos de 2009 para mim foi realizarmos o 4o Suíno no Rolete. Ele ter aparecido, participado e curtido foi super importante para mim e um ponto de comunhão, de união familiar. Nem pude ficar muito com ele mas não deixei de prestar atenção. Notei como ele se deu bem com outros motociclistas (sim, outros porque em espírito ele nunca deixou de ser um motociclista, de ser livre, de ser um aventureiro, um viajante). Adorei como ele curtiu a banda e o repertório. Fiquei impressionado e muito feliz quando ele colocou a peruca de cachos e bandana e fez pose para as fotos. A maior surpresa ficou para o outro dia quando minha mãe me contou que ele estava pesquisando preços de triciclo na internet.

Recebi um texto de Santo Agostinho - de quem meu pai era fã - que termina com uma frase que meu pai, com certeza, poderia ter-nos dito num momento como esse e que eu uso para fechar esse texto e reforçar meus agradecimentos de apoio e conforto dos irmãos motociclistas:

"Você que aí ficou, siga em frente, a vida continua, linda e bela como sempre foi."


Um comentário:

Luiza disse...

Só quem passou por isso pra saber a dor q é... mas eu imagino e sei q quem sofre somos nós q ficamos... ele com certeza ta num lugar mto melhor... sei q vc terá mta força pra aguentar essa barra toda assim como sempre teve... tenho certeza q ele ja era realizado em v o filho dele bem criado... isso é o mais importante... fica bem e conta comigo (só nao pode contar com meus passos por enquanto hehe)... bjoks e se cuida...