Ando de moto para encontrar as pessoas

Daí (todo texto escrito no Paraná tem que ter uns "daí" igual os textos em Minas tem que ter uns "uai")...

Mas, daí, paramos na praça para ver o movimento e trocar uma ideia num domingo de sol e rolê de moto. De repente chega o cara e pede um favor. Ele não quer um trocado para comprar uma pinga. Ele pergunta se alguém pode entrar no bar e comprar a pinga com o dinheiro dele.  Está mal vestido, não está exatamente limpo, está pedindo um favor mas não é submisso, não se faz de coitado. Ele tem uma postura de respeito e dignidade. Conosco mas, principalmente, consigo mesmo. Peguei a nota de dois reais e entrei no bar. Lá dentro, inteirei para os R$3,50 da Ypioca e briguei pelo choro. Ele recebeu  a dose gorda no copo descartável e agradeceu de maneira polida. Saiu e voltou para agradecer de novo.

Instigado por tudo isso, puxei papo. Surpreso, mas comovido, ele ficou, sentou, contou algumas histórias, se emocionou pensando na família, cantou Raul Seixas, demos risadas. Ficamos tristes ao pensar como a vida pode maltratar as pessoas e como - lá no fundo - ele morando na rua e nós com nossas motos (e vidas) caras, no final das contas, sofremos pelas mesmas coisas. Ficamos felizes quando ele falou que já teve um triciclo e que tem amigos motociclistas. Ficamos felizes de ouvir ele dizer que estava feliz ali conosco, naquele intervalo da rotina dele, sendo recebido, acholhido e respeitado.

Daí - tem que ter "daí" - fiz questão de presenteá-lo com um adesivo do Águias do Cerrado. Ele ficou super feliz e eu também. Eu tenho certeza de que, mesmo que o perca, ele vai sempre ter uma boa lembrança do MC. Para mim, mesmo que eu não veja mais essa foto ou a pessoa, vou sermpre ter uma boa lembrança do Encontro - o dele e do meu.